Sente-se! ouça!
— Sente-se aí e ouça, se não se importa.
— !!
— Não resista! sente-se! ouça! Quero transmitir-lhe uma ideia, ideia simples, coisa de nada, porém importante. Demasiado importante para ficar aqui sozinha, pendurada no cérebro de quem a concebeu, e não me refiro ao meu: sabia que é impossível determinar com rigor o cérebro que concebeu uma ideia...? são tantos os que se apresentam a concurso, entende?
— !!
— Não resista! ouça! A ideia é… a respeito da blogosfera…
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— Sente-se! ouça! É lastimável que a blogosfera abrigue ideias obnóxias — mas inevitável. A tendência forte dos bloguistas é para fazerem nos blogues o que fariam noutros lados, se tivessem lados, outros, onde fazerem alguma coisa. Isso, apenas isso explica a frequência com que se vê escrito: este debate não leva a lado nenhum. Dito assim, por escrito, com veemência, concisão, como diagnóstico seguro e inexorável do pior cancro dos debates: não levarem a lado nenhum. Estes teleológos de bolso acham que tudo se avalia pelo fim, e ficam à espera que acabe para avaliarem: com a pressa, dão em profetas minúsculos, declarando de antemão que o fim não presta, ou não chegará nunca.
— !!
— Sente-se! nada de objecções! não lhas permito! O debate na blogosfera, a bem dizer nenhum debate se pode avaliar pela eficácia de produzir resultados: que lugar é esse onde se pretende chegar? Conclusões? Consensos? Descobertas? Todo o debate, meu caro — não se levante, espere um bocado, por favor —, todo o debate é movimento, acção, deslocação. Os mesmos blogues deviam ser mais acção do que expressão, mais intriga do que opinião. Acontecer, fazer acontecer: produzir factos, inventar! Delicio-me com pontos de admiração, o senhor não? O debate é um agregado de factos antes de levar a algum lado: é alimentá-lo enquanto dura, acarinhá-lo, tomar conta dele, não o deixar degenerar, meter-se em drogas, perder dinheiro no jogo ou com mulheres… perdão, divago, não se vá embora, ouça, sente-se, não resista… ainda não acabei, espere, e os jornais…