Prémio parasitífero
Pode ser coisa de defunto, e concedo até que seja ocioso, mas achei muito mal que Pacheco Pereira se pusesse a descrever a parasitagem da blogosfera como se lhe quisesse fundar a fisiologia. Até que dava um bom título de monografia: Fisiologia do comentador de blogues… Ou antes, seria um título tanto melhor quanto menos monografia trouxesse apensa. Pretendo sugerir que o título, para cumprir a finalidade parasitológica, não pode correr o risco de acabar parasitífero. De modo nenhum, percebem? de modo nenhum. E acabou, quero dizer — perdoem-me, parece que tartamudeio, estou desabituado —, deu nisso, alimentar os parasitas em vez de os descrever simplesmente. É que eles não gostam de ser descritos. Gostam mais de descrever os sítios onde se hospedam. Não gostam que os descrevam. Refiro-me aos comentadores de blogues, ou melhor, refiro-me, não a todos e a cada um, mas ao tipo, à figura, ao paradigma, à entidade abstracta. E isso não se refere sem que todos e cada um se sintam ofendidos. Se eu me referisse a todos e a cada um, diria que sim, que gostam que os descrevam, porém noutros termos, mais exclusivistas. Por exemplo: “Os comentadores de blogues são, em regra, uns grunhos, composto de idiotas e malvados. Excepto um, que leio sempre que encontro, que nunca é demais encontrar, o zeca totó, assim mesmo, tudo em minúsculas, irreverência contra os ditames da ortografa, e saudável que é a irreverência, etc.” Percebem? todos estúpidos menos aquele ali?! Em suma, acharia bem melhor que o mencionado Pacheco Pereira usasse do seu poder para conferir o prémio O Melhor Comentador da Blogosfera Portuguesa, a alargar ao Brasil em segunda edição. É claro que, para o vencedor, o prémio só podia ser um: o seu próprio blogue, livre de quaisquer encargos, com link perene no Abrupto. E com o mesmo Pacheco Pereira a escrever todos os posts, obviamente com nome suposto ou até nenhuma suposição de nome, anónimo, quero dizer. Ganda castigo! Que tal? Creio que contribuiria imensamente para elevar o nível dos comentários, se bem que talvez não baixasse a quantidade. Mas não é da quantidade que nasce a qualidade? Ou isto é um lugar-comum, ahh... parasitífero?