Se este blogue não acabou, talvez nos tenha abandonado
— Acho que percebo a tua objecção.
— Não é objecção, é uma visão, digamos, alternativa. Aceito que o blogue é interminável, que não acaba, ou pode não acabar, ou não acaba por si mesmo. Acaba ou pára por acidente ou por abandono.
— Sim, isso também eu aceito. Mas dizias…
— Dizia que assim regressam à cena as pessoas… a qualquer momento aquele que o abandonou regressa, acarinha-o, e fica mais uns tempos por ali… quem é "aquele", senão uma pessoa?
— Mas como querias que fosse? os blogues são escritos por pessoas, ou não?
— Olha quem fala…
— Em regra, homem, em regra. Falo de situações regulares, blogues de vivos, de gente viva…
— Aí tens a distinção, vivos ou mortos, é muito diferente. Vivos são pessoas, e aquela frase sugere que as pessoas se condoem dos blogues abandonados e regressam para os reconfortar. Quando é precisamente o contrário que se passa.
— O contrário!? Precisamente o contrário!? São os blogues que regressam para reconfortar as pessoas que os abandonaram? Isso não tem sentido!
— Claro que não, o "precisamente" era expletivo. Se trazes pessoas à cena do blogue, então é mais urgente dizer que são os blogues que as reconfortam. Ou elas esperam do blogue que as reconfortem. Melhor explicado: as pessoas "ficam por ali", não abandonam o blogue ou regressam depois de abandono provisório, porque têm medo de que seja o blogue a abandoná-las. E para sempre, sem regresso viável.
— Quer dizer que, metendo em cena as pessoas, não há diferença entre abandonar o blogue e ser abandonado por ele?
— Alta perspicácia, meu caro.