Mas este blogue não acabou?
Suponhamos que não. Suponhamos que este blogue não acabou. Este, pelo menos, não acabou. Uma suposição é uma suposição, quer dizer, um princípio de construção. (No restaurante, ou na televisão, diriam: uma suposição vale o que vale, procedimento de tautologia despectiva, por analogia com as sondagens, as declarações de um ministro ou os vaticínios da astrologia; persistem entretanto várias coisas, aliás muitas, que nem chegam a valer o que valem). Suponhamos, então. E a sério, se não acabou, sejamos sérios.
*
Une chose réussie est une transformation d'une chose manqué.
Donc une chose manquée n'est manquée que par abandon.
Paul Valéry, Tel Quel.
*
Vá lá, sejamos sérios: a pergunta "mas este blogue não acabou?" tem de ser rescrita assim: "mas não é legítima a suposição de que este blogue foi abandonado?" (Resposta correcta esperada: raramente.)
(Aliás, quem poderia abandoná-lo?)
*
Paul Valéry, Tel Quel.
E se o blogue continuasse sozinho? Um blogue é interminável, melhor dizendo, invulnerável ao abandono; a qualquer momento aquele que o abandonou regressa, acarinha-o, e fica mais uns tempos por ali.
Então, a pergunta "mas este blogue não acabou?" tem de ser reconsiderada como pergunta sem sentido. Ou impertinente. Sejamos sérios, carago.