Este blogue acabou?
— Um blogue! Um miserável blogue! É nisso que estamos?
— E há muito tempo, meu caro, há muito tempo. Também me custou a acreditar, mas foi isso que ouvi. Distintamente.
— E ainda por cima um blogue que acabou?!
— Essa parte já não é certa… Ou está sujeita a interrogação crítica, como diriam os outros. Se tivesse acabado, estávamos agora aqui? Poderíamos conversar um com o outro? Sei de casos, é certo, de personagens de romance que sobreviveram aos romances, e até de gente que conseguiu escapar de filmes, de peças de teatro, de pantomimas, e ganhar vida autónoma. Mas de blogues, não, não tenho notícia de autores ou personagens de blogue que existam fora do blogue.
— Porque não lês blogues. Olha que eu leio e encontro por lá quem explique onde esteve quando esteve fora… Há um fora, portanto.
— E depois? Que consolo tiras daí? Nem interessa se isto acabou ou não. Eu é que me sinto mesmo como o Buzz Lightyear quando descobriu que era apenas um brinquedo e não um ranger do espaço.
— Ora, ora… tu não podes saber como se sentiu o Buzz Lightyear quando descobriu que era um brinquedo. Aliás… se era um brinquedo, como é que sentiu fosse o que fosse?
— Achas que os brinquedos não têm sentimentos? Achas acaso que são como as personagens típicas, transparentes, com experiência pública mas nenhuma experiência singular, individual, pessoal? Como se fossem gregos, com qualidades genéricas, sem interioridade ou densidade psicológica…
— Os brinquedos têm interioridade e densidade psicológica?
— Aí tens! Fazes-me uma pergunta dessas e ainda acreditas que o blogue acabou?