domingo, 4 de março de 2007

Paróquias & Livros

Paróquia ou paroquiato. Ou paródia. Também serve para designar grupo de pessoas com interesses comuns. Comunidade. Nada a fazer. São erradicáveis. Segregam sentido de homogeneidade interior e de competição com o exterior, qualquer deles abominável. Por exemplo: certa professora brasileira que acabo de ler (Deus me livre de lhe pôr aqui o nome!), comentando o relevo do Quijote na literatura espanhola descai-se — ou não… — e acrescenta que nada de semelhante existe em língua portuguesa. Dados os encómios que lhe merecem o livro de Cervantes, o acrescento redunda no sublinhado dum traço de menoridade. Ainda há dias li algures, não sei já onde, que Eça não seria possível sem Flaubert… Voilá! Será defeito de Flaubert? Parece que não (mas devia ser!): antes menoridade do tal Eça. Mas dessa menoridade está ele livre. Nenhum autor que se preze deixou de copiar o que entendeu copiável. Nenhum. É preciso copiar. É criativo copiar. E critica-se?! Paróquia, em suma. Aliás escola de meninos invejosos. Reparte-se a literatura em paróquias chamadas nacionalidades, depois julga-se que a repartição corresponde a um fenómeno de evolução natural, assim como a emergência do córtex cerebral ou lá o que é, e depois ficam as mais aptas aquelas nacionalidades que criaram coisas que as outras não alcançam. A conclusão indisfarçada não é estarmos mais ricos por termos qualquer coisa como o Quijote, é ficarmos mais pobres por pensarmos que são os espanhóis que a têm. Paróquia ou paroquiato, cum mil raios.

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E depois é melhor não publicarem mais livros. Chega. Já só causam desgostos e irritações. Ontem abri um livro que agora saiu. Li no começo dum capítulo: “Ando há três anos (já lhes perdi a conta)…” Chiça! Quem escreveu o que está dentro do parêntesis? A usar assim a primeira pessoa, será decerto a pessoa autora, que assina na capa. Então quem pôs o numeral “três”? Quem contou os anos, guardou bem guardada a conta e a fez imprimir? Ainda a pessoa autora e pela mesma razão? Decerto. Então a pessoa autora não sabe o que significa “perder a conta”, ou antes quis fazer-se interessante, engraçada, solta, arriscar incoerência… E não há outra pessoa chamada editor que a mande dar banho ao cão enquanto lhe depura a prosa? Não há? Se não há, é melhor não publicarem mais livros.