A morte foi no ano passado
— Já viste? Alguém deu pela passagem do primeiro aniversário da tua morte.
— Ah, o Sr. Mourão… Curioso, ele que foi o último a chegar...
— Mas não é mais ou menos sempre assim?
— Assim como?
— Então... o que chega depois, o que vem demasiado tarde, o que se afirma pela consciência dos predecessores sem se lhes sujeitar, e demais com mortos à mistura, esse, e só esse, pode perceber e dizer que tu eras a alma daquilo.
— Ah... Eu era a alma daquilo... Caramba, rapaz, e se eu era a alma daquilo. Mas se alma era, alma continuo, não é? Nem sequer penada: de nada, alma de nada, ou da eternidade do vazio, ou da voluptuosidade do nada, do lado de cá do mistério, ou do...
— Eh lá, chega! Estás a deprimir-me.