— Lançamos a campanha ou não? Começamos hoje?
— Não sei, tenho ainda algumas dúvidas. Preciso de pensar melhor antes de entrar nisso.
— Ora, deixa de ser timorato. É preciso audácia, muita audácia, a sorte protege os audazes, etc. Aliás, o que é que te pode acontecer? Nada absolutamente! Nada mais incomensurável do que o desdém dos mortos, como sabes…
— Eu sei, mas… uma campanha para reabilitar o plágio?!
— É uma grande ideia! Uma ideia enorme… sobretudo porque prática. Mas nada de reabilitar: apenas praticar. Sem propósito de espécie nenhuma. Prática. De preferência cega. Nada de teorias.
— Mas é impossível voltar à época barroca…
— Vês? Percebes porque és timorato? Lá estás tu com teorias e análises e analogias e conexões e o caraças. Nada disso. Prática, mera prática. Levar por diante o plágio. Plagiemos!
— Plagiemos?!
— Sim, é essa a campanha, homem. Plagiemos! Vamos todos plagiar. Cada romancista, cada poeta, cada jornalista, cada miserável bloguista deve plagiar, deve abster-se de escrever coisa sua e passar a publicar exclusivamente coisas pilhadas a outros. Aí é que se vai ver quem presta, quem tem coisas para dizer, quem sabe e quem não sabe… E que higiene, meus Deus! que limpeza! que aragem fresca no impresso!
— Como na época barroca, portanto.
— Como queiras. Se queres começar já a plagiar é contigo. Aliás, apoio, aliás, aplaudo. Plagiemos. Todos. Aí é que se vai ver quem presta, quem tem coisas para dizer, quem sabe e quem não sabe…
— Começo a ver os contornos da ideia, sim. Hmm… plagiemos, sim, plagiemos… Percebo: nem teorias nem análises nem analogias nem conexões nem o caraças. Nada disso.
— Prática, mera prática. Levar por diante o plágio. Mas nada de reabilitar, ouviste? Nada de propósitos altos ou baixos, graves ou cómicos.
— Como queiras, então. Se queres começar já a plagiar é contigo. E comigo. Aliás, apoio, aliás, aplaudo. Plagiemos. Todos.