domingo, 16 de julho de 2006

O gene operador

Os genes equiparam-se ao nome próprio num ponto preciso: recebem-se sem meio de escolha, sem deliberação, sem aceitação. Um sujeito mal se precata, e já não se livra deles. Nunca mais. E dado que se recebem com a informação de que sobreviverão à nossa morte, ou porque por sua vez se transmitem ou porque se fixam sem corpo na memória ou lá o que é — recebem-se anunciando a morte, de antemão e em definitivo. Assim, por exemplo: Tu, rapazito, acabadito de nascer, serás chamado Vicente, e sempre assim serás chamado, mesmo depois de morto, e aliás, vais ser chamado, e Vicente, para que possas morrer sem que te esqueçam e os que ficam possam falar de ti ou mesmo chamar-te quando não estiveres presente, ou porque foste comprar cigarros, ou porque morreste mesmo, Vicente. Entretanto, é melhor que não fumes, se não quiseres morrer cedo. Há casos de cancro de pulmão na família…? O avô? Diacho!… um sujeito mal se precata, e já não se livra deles. Dos avós, nunca, dos cigarros, já é possível. Não fumes, Vicente.