quinta-feira, 4 de maio de 2006

Expedido para Manuel António Pina

Ao mesmo link, com respeito e admiração, correspondendo:

Mas, naquele raiar, ele sabia e achava: que a gente nunca pode apreciar, direito, mesmo, as coisas bonitas ou boas, que aconteciam. Às vezes, porque sobrevinham depressa ou inesperadamente, a gente nem estando arrumado. Ou esperadas, e então não tinham gosto de tão boas, eram só um arremedado grosseiro. Ou porque as outras coisas, as ruins, prosseguiam também, de lado e do outro, não deixando limpo lugar. Ou porque faltavam outras coisas, acontecidas em diferentes ocasiões, mas que careciam de formar junto com aquelas, para o completo. Ou porque, mesmo enquanto estavam acontecendo, a gente sabia que elas já estavam caminhando, para se acabar, roídas pelas horas, desmanchadas…


[João Guimarães Rosa, “Os cimos”, Primeiras estórias,1962.]