domingo, 1 de abril de 2007

Os malefícios da proibição

Gostas de citar, meu lindo? (Que raio de maneira de começar. Haverá propósito?) Há tempos, deixaste a meio um texto sobre o tabaco, a proibição de fumar, os supostos direitos de quem não fuma, a diferença entre o tabaco e a cocaína (ou a heroína), que depois nem era relevante, e nem sei que mais. Sem punch line, o texto ficou paralisado; preterido. Mas gostas de citar, meu lindo? (Que coisa, isto volta: quem é este lindo a quem chamo meu?) O ponto, se não erro, era este: indesmentíveis que sejam os malefícios do tabaco, mais nefastos que indesmentíveis são os malefícios da proibição. É um ponto difícil de argumentar. Quem defenda o tabaco, e fume, defende-se sem dificuldade de maior. Quem não fume, mas suponha o tabaco um mal menor ou ainda um benefício, dirá isso mesmo. Já quem entenda que o tabaco empesta o ar terá maior dificuldade em repudiar a proibição enquanto proibição. O bom senso diz que ao Estado compete proibir o nefasto. Como podemos repudiar que se fume em locais públicos e ao mesmo tempo que se proíba o tabaco em locais públicos? Enfim, gostas de citar, meu lindo? Aqui vai o exemplo que ilustra a necessidade da distinção difícil: «Foi preciso que o Parlamento levasse um boa bofetada na cara, mas mais vale tarde do que nunca. Que o dr. Correia de Campos, do alto da sua autoridade, obrigue o proprietário de um restaurante a impedir a sua clientela de fumar não impressionou os senhores deputados. Que o Estado resolva impor uma regra geral que exclui a hipótese de os fumadores frequentarem restaurantes de fumadores também não colidiu com a sensibilidade democrática da Assembleia. Agora que o grupo parlamentar socialista interfira na comodidade e nos vícios de cada um é verdadeiramente grave. As leis, como toda a gente sabe, são para a canalha. A canalha que as cumpra e cale o bico. Os senhores deputados, pelo contrário, têm direitos. Por exemplo: no avião de Sócrates, que os contribuintes pagam, fuma quem quer e o ar até se torna ‘quase irrespirável’. Assim é que é; e assim é que deve ser em S. Bento.» Acutilante, preciso: e vindo dum defensor do tabaco (Vasco Pulido Valente), claro, fumador, claro, mais ajuda, e até foi hoje (Público, lá para a última página, sublinhados meus). Gostas de citar, meu lindo?