Lição do galo
— São muito azedos, os teus espirituosos…
— Meus? Que raio de ideia. Encontro-os sem os procurar, colijo-os sem lhes pedir licença, estropio, trunco, altero… são tudo menos meus, se no possessivo queres insinuar algum sinal de respeito ou reverência da minha parte.
— Por acaso não queria nada de semelhante. Assim mesmo é que me parecem mais teus. Mas disse “teus” porque és tu que os papagueias, só isso. E que são azedos, são.
— Querias espirituosos alegres?
— Não, nem tanto, mas alguma boa disposição, algum humor leve, sei lá…
— Ora, ora. Para que queres tu isso? O galo canta até na manhã em que vai acabar na caçarola.
— Hmm, cheira-me que isso não é teu…