quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Sejamos claros

Sejamos claros. Se eu tivesse, digamos, um blogue, não tolerava piadas. Não as faria eu próprio; de resto incapaz por natureza do acto piadético. E coagia eventuais colaboradores a absterem-se do exercício. Não que despreze a liberdade de expressão. Não desprezo. Prezo, e muito. Sejamos claros: apenas entendo que as piadas não são formas de expressão. (Tal como o arroto e o traque não são. Nem mais. Em tempos disseram-me que uma ventosidade permitia identificar a pessoa que se descuidou: talvez engarrafassem o gás, depois ia para o laboratório. Também me disseram que da poia do cão no passeio se podia chegar ao respectivo dono: e sabe Deus como o Eça ou o Rui Zink usariam a nova possibilidade num romance dos deles.) São formas desvinculadas de expressão. Onde não existe vínculo entre o que se diz e a pessoa que diz, esta desobrigada de defender ou acreditar no que acaba de dizer: contenta-se com o riso dos outros, a tola. Meses de permanência naquele coio de farsistas não chegaram para os convencer da verdade e da urgência deste repúdio. Que eu reproduzia o argumento de Platão contra a mimese e a poesia… Pfff… Sejamos claros: professores… pfff!!!